terça-feira, 19 de abril de 2011

Até que a morte os separe!

No último sábado fui ao casamento de minha prima, e como sempre, os casamentos me intrigam. Sempre fico prestando atenção em tudo: na decoração, nos convidados, na estrutura da igreja e principalmente na pregação do padre.
Quando estamos dentro de uma igreja, seja ela de qualquer religião, o padre ou pastor está ali evidentemente para pregar os valores da mesma. Mas uma das coisas que mais me chamou a atenção neste último foi quando ouvi o padre dizer à minha prima que a partir daquele momento, deveria ter como primeiro lugar em sua vida a responsabilidade de fazer seu marido feliz e vice-versa.
A igreja, podemos assim dizer, foi a primeira "clínica de psicologia" instalada no mundo. O ato de confissão, nada mais é do que a exteriorização daquilo que nos está fazendo mal, e que precisamos extirpar através da fala. Mas não podemos esquecer que toda igreja tem a sua política.
Muito além daquilo que é dito na igreja, me permiti a ir mais fundo naquele dizer do celebrador. Pensei na grande dificuldade desta "ordem", pois vivemos num mundo onde encontramos uma grande dificuldade em fazer da nossa felicidade o primeiro lugar, quanto mais fazer isso para outro (diga-se de um modo verdadeiro). Esta é a problemática implicada nesta fala: tenho a dificuldade de encontrar a minha felicidade, logo, vou procurar ser a felicidade do outro, que se mostra mais simples de se alcançar.
Mas este infelizmente é o erro do relacionamento.
Quando não estamos felizes conosco, dificilmente conseguiremos fazer alguém feliz. Precisamos ter em mente que para um relacionamento ser sadio, a felicidade e o bem-estar precisam morar em nós, não em nosso companheiro. É dessa maneira que uniões se estabelecem e duram da melhor forma possível até o seu determinado momento, findo ou não.
Penso às vezes que muitas relações são desfeitas porque nos deixamos em segundo plano, nos esquecendo de nós mesmos e de nossos desejos, que continuam pulsando estando você com alguém ou não. Com isto, não conseguimos realizar aquilo que nos é destinado no matrimônio, e para nos separarmos não é mais preciso a morte, mas sim a falta desse olhar introspectivo.
Agora o grande desafio: como, cada um de nós, coloca isso em prática?
Abç... Patrícia.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Até onde vai nossa tolerância?

Após muito tempo sem escrever, não poderia deixar de falar sobre o atual massacre que aconteceu em Realengo na última quinta-feira. A história, todos nós já sabemos, embora a cada dia que passe, novas informações sejam divulgadas.
Todo este acontecimento gerou uma grande revolta no povo brasileiro, onde a indignação se estabelece por se tratar da morte de crianças que mal tiveram direito à vida. Ainda não sou mãe, mas imagino o sofrimento que todas estas estão passando neste momento, o qual sabemos que nem é necessário julgar ou quantificar.
Mas o que me traz aqui, e de volta, é o que coloco no título: "Até onde vai a nossa tolerância?".
O assassino Wellington já não está mais entre nós, não está mais aqui para dizer qual foi sua motivação para tal ato, e mesmo assim todos estão ditando seus motivos, procurando justificativas para amenizarem sua dor, diagnosticando e batendo o martelo no seu "perfil psicológico".
Sinto, cada vez mais, que o ser humano precisa que alguém seja mais maldoso ou mais maligno do que ele, que seja mais culpado do que cada um de nós somos. Porque todos nós somos culpados de alguma coisa: ou pelo aquecimento global, ou pelo abuso infantil, ou pelo sigilo de informações de pessoas que sofrem por espancamento, ou por simplesmente fecharmos os olhos para a fome, para a desigualdade e para todas as outras injustiças que são cometidas por nós, seres humanos.
Esquecemos também da grande injustiça que fazemos com nossas crianças: daquelas que são depositárias de todos os sofrimentos e neuroses de seus pais, daquelas crianças que pedem socorro em silêncio mas não queremos ter o trabalho de ouvi-las. Não podemos nunca nos esquecer que um adulto já foi criança, e é na infância que precisamos depositar todo nosso carinho, atenção, cuidado e educação. Não podemos nos esquecer que uma criança sofre, e sofre até muito mais do que nós, porque ainda não possui a facilidade de expressão que desenvolvemos com o tempo. Muitas delas sofrem sozinhas. Muitas delas sofrem por transtornos psíquicos, os quais encaixamos nos diagnósticos da atualidade, não procurando por ajuda. Não vamos a fundo, não vamos ajudá-las, não olhamos para elas e para nós (que podemos muitas vezes sermos responsáveis por esse sofrimento).
Mas não temos tolerância para isto, não estamos preparados para lidar com a culpa da nossa responsabilidade, temos a dificuldade de enxergar nossos erros, porque nosso ego não está preparado pra isso. Então agora vamos todos julgar o porte de armas e nos esquecer do referendo para o desarmamento que ocorreu em 2005 e a maioria (da qual posso me isentar) votou para que isso não acontecesse. Vamos nos esquecer da criança que está em nossa casa, precisando de ajuda, para chorar pela morte da criança da rua de trás, e lembrar dos nossos quando algo pior tiver acontecido.
E vamos mais uma vez passar por cima do luto de todas essas crianças, misturando a angústia com a alegria, fazendo uma festa à elas quando elas retornarem à escola, e assim ajudando na confusão de sentimentos e burlando o direito que todas elas tem de superar e entender o que é a morte, roubando-lhes então a tolerância para isto. E assim vamos construindo adultos iguais à nós, intolerantes.
E então lhe pergunto: Até onde vai a sua tolerância?
Abç... Patrícia.