quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Psicólogos apenas conversam.

Na quarta-feira, 08/02, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado aprovou o projeto de Ato Médico, que define as atividades da profissão.
Já escrevi sobre o ato médico há algum tempo atrás, e além de uma futura psicóloga, sou uma incansável defensora da saúde através da prevenção e não da medicalização. O ato médico é um "projeto" de lei que dá ao médico o direito do diagnóstico, como também o encaminhamento para outros milhões de profissionais da área da saúde que "dependem" do diagnóstico médico.



Mas este assunto não é de hoje discutido aqui no blog. Minha postagem hoje se deve ao enorme desrespeito causado por Roberto d’Avila, presidente do Conselho Federal de Medicina que citou a seguinte frase sobre os psicólogos: "Como tratarão neuroses, esquizofrenia? Só com papo e conversa? De jeito nenhum. Essas doenças são causadas por deficiências bioquímicas, e os pacientes precisam de medicamentos.”
Eis aqui a grande indignação de todos os profissionais e estudantes desta área.

Senhor d'Avila, nós psicólogos, não tratamos nossos pacientes com "apenas papo e conversa", passamos por uma graduação de 5 ou até 6 anos de duração. Estudamos anos de teorias, temos aulas práticas, e pasmem! Também estagiamos antes de nos formar, passando por uma avaliação de mestres e doutores para obter nosso diploma.
Não tratamos um ser humano na base de fármacos, pois entendemos que o homem é um ser além do biológico, também é experiência, vivência, cognição, comportamento, introspecção, sublimação, percepção e tantas outras coisas mais do que apenas uma "máquina" controlada pelo cérebro. Somos muito mais do que seres biologicamente estruturados. E mesmo assim, não desmerecemos o trabalho da medicina, pois sabemos o quão importante é essa profissão!

Outra nota que é apresentada no projeto do ato médico é a seguinte: "Aqueles que precisam trabalhar para seu sustento são submetidos a uma exigência humana sem similar nas demais profissões. E estes esforços perduram por seis anos e, pelo menos, mais dois de Residência Médica, porque o contínuo progresso científico do setor faz com que os seis anos de graduação sejam insuficientes para o bom desempenho das especialidades médicas. Nenhuma outra profissão da área da saúde experimenta coisa parecida. Tornar-se médico é um processo cada vez mais demorado e custoso, pois esse profissional não pode ser improvisado: necessariamente, tem que ser bem formado."
Acreditamos piamente que tantos anos de formação não são em vão, assim como também acreditamos que nossos anos de formação não o foram. Não desejamos assumir o papel da psiquiatria, apenas procuramos um trabalho que some as habilidades e mostre ao médico que muitas vezes o medicamento não é necessário.

O que buscamos, senhores médicos, não é roubar a vossa posição, mas apenas lutamos para que vocês reconheçam as tantas outras habilidades que existem além da medicina. Um pensamento completamente primitivo ainda toma conta de muitos, que acreditam que uma só especialidade engloba todos os conhecimentos hoje desenvolvidos/conhecidos. Tantos profissionais surgiram, pois os conhecimentos se multiplicaram. Não temos o direito de medicalizar alguém, do mesmo jeito que outro profissional não poderá fazer nosso papel.
Não se sintam perseguidos, e não acreditem que os demais profissionais querem roubar vossas funções. Não queremos receitar remédios, afinal, se fosse essa a nossa intenção não buscaríamos um tratamento para a mente a partir da fala. Pois sim! A fala pode transformar! Talvez isso espante alguns que não conhecem, tão pouco desenvolveram tal prática nos 6 árduos anos de graduação.

Acreditamos também que remédios não curam a alma e nem serão necessários num futuro onde haja amor, carinho, respeito e educação no presente. Talvez desmerecer outras profissões seja garantir um futuro diagnóstico que dependa de remédios, e não é isso o que desejamos para nossas crianças, até mesmo adultos que um dia serão idosos. Não queremos uma saúde pela dor, não nos orgulhamos de receber crianças que passam por abusos e adultos que sofrem de grandes sofrimentos ou depressão. Não é isso o que queremos, não é isso o que buscamos.

Nós, psicólogos, e todas as outras profissões da saúde, não os desmerecemos, e sim buscamos a junção de habilidades, de conhecimentos e de práticas. Anos de graduação não significam um bom profissional, entendam. Não se deixem elitizar e esquecer o "ser humano" se tornando a voz de "Deus". Não percam sua essência, não deixem de ajudar o próximo apenas por vaidade.
O dia em que me tornar "isto" não quero mais atuar, porque não saberei qual é a minha função nesta vida, se não for esta.

Esperamos a retratação do presidente do CFM, e em resposta o Conselho Federal de Psicologia publicou uma nota de repúdio. E que fala o seguinte sobre os diagnósticos: "Ao dizer que os psicólogos não são capazes de diagnosticar, o Presidente demonstra total desconhecimento de nossa profissão e desrespeita uma categoria que estuda o diagnóstico mental, inclusive, por mais tempo que os médicos. Isto sem contar com a residência e pós-graduação em Psicologia, que permitem que os psicólogos aprofundem ainda mais os conhecimentos sobre o tema e técnicas e conhecimento relativos ao diagnóstico."

Gostaria de deixar registrado aqui minha total indignação com o que foi/é dito por alguns profissionais da medicina, salvo alguns que respeitam as outras especialidades. Enquanto não caminharmos juntos, a saúde não sairá do lugar! Vaidade não é um quesito para a saúde.
E o ato médico é um obstáculo que encontramos no caminho!
EU DIGO NÃO AO ATO MÉDICO! EU DIGO SIM À SAÚDE!