terça-feira, 25 de junho de 2013

Senso comum. O meu, o seu e o nosso.


Praticamente todos os dias em nossa sociedade, nos confrontamos com um dificultador já enraizado culturalmente e poderosamente persistente: o senso comum.
Ele está em todos os lugares, em todas as pessoas, em todas ações, em todos os pensamentos, em todos os olhares, em todas as palavras e em todas as profanações, por mais tímido que seja.

O senso comum nos acompanha desde o nosso desenvolvimento.
Quando somos apresentados a nossa cultura e ao nosso meio, somos apresentados também a julgamentos pré-concebidos sobre determinadas pessoas ou situações, sempre tendo uma resposta distorcida para a reação de uma ação.
O grande problema deste raciocínio, que se julga muito lógico e detentor da verdade, é que ele desconhece o trajeto e os possíveis desencadeadores destas reações.

Para tentar explicar-lhes isso, vou ilustrar uma situação vivenciada em minha própria vida.

Quando era mais nova, não podia ouvir falar na "galera dos Direitos Humanos". Sempre que estava assistindo algum noticiário sobre prisões de criminosos, logo em seguida vinha a notícia de que a "galera dos Direitos Humanos" havia entrado no caso para interceder pelo "bandido". Não conseguia me conformar com o que aquela "galera" estava fazendo ali, se intrometendo, já que o indivíduo estava pagando por um ato ilegal ou criminoso que cometera. Passei a achar que a "galera dos Direitos Humanos" defendia bandidos.
E foi assim, por anos em minha vida.

Estudei, me formei e minha concepção sobre os indivíduos, as políticas e as questões sociais foram se alterando.
Ironicamente (ou não tão ironicamente assim), há 6 meses atrás, entrei para trabalhar com a "galera dos Direitos Humanos", e percebi que estava ali por puro e extremo desejo de estar.

Foi conhecendo essa "galera" que de repente eu comecei a conhecer um pouco mais sobre o meu senso comum. Comecei a conviver com o pessoal que defendia bandidos há alguns lá atrás na minha vida, e foi aí que eu entendi porque diabos eles faziam isso. Fui conhecer famílias, indivíduos e realidades que não eram contempladas na mesma reportagem que anunciava que a "galera dos Direitos Humanos" estava defendendo "gente errada". Fui conhecer histórias fortes, bairros abandonados, grande pobreza e o descaso do Estado com humanos. Fui (tentar) entender o porque de tanta coisa "ruim" que vemos em nossa sociedade.

E de repente lá estava eu, a "psicóloga dos Direitos Humanos" que conseguia enxergar esses indivíduos com histórias sofridas, com famílias destruídas e sem acesso aos seus direitos que se "filiaram" ao grande mundo da criminalidade. A mesma criminalidade que você critica quando vê na TV, mas que coloca o prato de comida numa casa quando o dinheiro não deu.
Você entende porque o assistencialismo é mais buscado do que a assistência e porque a classe média ou alta julga uma realidade que não conhece.

Pra você perder seu senso comum, meu caro, só estando do outro lado para saber.

Hoje, não apoio ou justifico a criminalidade, mas entendo o motivo dela existir. Hoje, eu sou uma pessoa que defende e busca o cumprimento dos Direitos Humanos, para aqueles que foram esquecidos e são merecedores. Hoje, eu não consigo mais olhar a reação de uma ação, mas entendo (ou no mínimo tento) quais foram os desencadeadores para tal. Hoje, eu entendo que "a galera dos Direitos Humanos não defende só o pobre", mas sim defende aqueles que se tivessem seus direitos garantidos, não seriam tão marginalizados.
Hoje, eu entendo que o seu, o meu e o nosso senso comum é que nos ajudou a fomentar a criminalidade. Culturas escravagistas ainda à parte, não?!

Hoje, eu, Patrícia, sou feliz por poder romper com meu senso comum em muitos sentidos. Por me permitir, mesmo que sendo muito difícil e doloroso, a conhecer realidades as quais me denunciam quem são os verdadeiros culpados. Hoje me sinto gratificada por conhecer esse "outro lado". Hoje ainda sofro desse senso comum tão enraizado em nossa sociedade, mas sei como posso fazer para dissolvê-lo.

E sei também que enquanto continuarmos culpabilizando um cidadão, aqueles que detém o poder político sempre serão isentados de suas faltas. Enquanto não quebrarmos nossas correntes morais, nunca conheceremos o bom senso e sempre sofreremos desse senso tão comum, que perpassa as relações humanas.

E para você, que sempre coloca a pobreza à margem, pense duas ou até mais vezes quando for criticar a marginalidade, pois ela apenas estará correspondendo a sua investida.

Abç... Patrícia.


sábado, 22 de junho de 2013

Nosso filtro é nossa arma!

Nesta semana, como já havia publicado numa postagem curta, minha adrenalina estava a mil referente as manifestações que ocorriam por todo Brasil. Sempre fui interessada em movimentos sociais, e ver tudo isso acontecendo novamente me fez lembrar (acredito que não só eu) nas grandes revoluções que tivemos em nosso país, principalmente a grande revolução contra a Ditadura Militar.
Fiquei numa tensão tão grande, que minhas noites se resumiam em acompanhar ao vivo os protestos em São Paulo e pelo Brasil afora. Mas foi ontem que algumas coisas começaram a borbulhar em minha cabeça...

Quando tudo começou, a partir do aumento das tarifas de ônibus, a luta foi pela redução do preço. De repente, o Brasil não estava mais lutando por centavos, mas sim por direitos. Um "objetivo" digno, já que nesse país os direitos são mais violados pelo Estado do que possamos imaginar. Então foi assim que muitas pessoas começaram a ir às ruas, para pedir um "Brasil melhor". Mas este clamor se tornou um tanto quanto amplo, e no decorrer dos acontecimentos começaram (o facebook teve grande participação) a se delinear algumas metas.
Com a música-tema da Fiat, fomos às ruas para gritar, cantar, reivindicar, criticar e se exaltar. Criticamos partidos políticos, a rede globo, a polícia, a presidente, o ex-presidente, a PEC 37, a copa, e por aí vai... E quando percebemos, estávamos completamente inseridos em afirmações e exclamações que muitas vezes não vinham de nossa própria opinião.

No início dos protestos eu estava totalmente contra a manifestação de partidos políticos nos movimentos, levando em consideração a fala de que não tínhamos partido nenhum, apenas éramos brasileiros lutando por um mesmo ideal.
Particularmente, hoje não possuo nenhum partido político. Fui por muito tempo simpatizante de um partido de esquerda, mas que hoje configura-se de uma outra maneira, com a qual não mais me identifico. E então passei a maior parte da semana criticando os partidos socialistas envolvidos nos protestos.
Quando comecei a ler mais artigos e opiniões sobre o assunto, também pude perceber o quanto essa "aversão a partidos políticos" é forjada pela mídia. É gritante a maneira como os interesses políticos se confrontam e se aproveitam da movimentação do povo. Mas o que/quem configura ou determina o papel destes partidos políticos? Não seria papel deles se inserirem e fazer parte do povo nestes movimentos?
Continuo sendo apartidária, porque hoje não (re)encontrei um partido que represente minhas ideias, até porque, CONFESSO, passei muito tempo desinteressada em "políticos". Mas respeitar aqueles que já possuem o seu, precisa continuar fazendo parte dessa democracia. Mantenho o discurso de que não gosto quando vejo pessoas se aproveitando da inocência de alguns, para atingir movimentos de outros ideais políticos, mas isso infelizmente dependerá do discernimento de cada um.

E lá nós continuamos, indo para às ruas cantando a música da Fiat, tema da copa (que diga-se de passagem foi até um bom trocadilho contra o capital!).

É quando começamos a ler melhor, discutir melhor e refletir melhor, que percebemos o quanto somos influenciados midiaticamente.
Hoje, além de não ser tão crítica quanto aos partidos, já não sou mais contra a PEC 37 (com argumentações à parte, pois não estou aqui para convencer alguém sobre isso).
Mas isso é importante para mostrar o quanto os meios de comunicação, por mais desinteressados que se possam declarar, sempre fazem a massa seguir sua linha de pensamento (que muitas vezes não condiz com a realidade), e são eles quem dizem quais as 5 causas pelas quais você deve lutar para ter um país melhor.
E no meio de tanta informação, de tanta gente e de tantos palpites, as pessoas se perdem cada vez mais. Eu mesma me senti tão perdida no final desta semana que já não sabia mais pelo que estava lutando.

Na minha cidade, houve um manifesto no dia 20/06 (quinta-feira) que lutava inicialmente pela redução da tarifa do transporte público e pela redução do aumento salarial dos vereadores (66%). E lá fui eu pelas ruas, com a cara pintada de verde e amarelo e pedindo por políticas públicas eficientes e por direitos. Mas que políticas? Quais direitos?
A cidade estava tomada por mais de 20 mil pessoas. Um movimento tão bonito e nunca antes visto por aqui. Pessoas com cartazes, com máscaras, com caras pintadas, com apitos e com sorrisos no rosto. A cidade parou, não era carnaval, mas conseguiram fazer deste dia um movimento parecido.
Tantas coisas reivindicadas, que eu já não sabia mais pelo que estava pedindo. Claro que o movimento tomará forma no decorrer do tempo, mas me perguntei insistentemente no dia seguinte: pelo que eu realmente lutei naquela quinta-feira?
Conversando com um amigo ontem, percebi o quanto eu não sabia pelo que efetivamente eu estava lutando. A revolução contra a ditadura militar está estampada em todos os lugares nos protestos de hoje: fotos, músicas e mensagens, mas será que nosso contexto histórico atual pode se assemelhar àquela revolução? Será que estamos mesmo sendo enganados e prestes a sofrer um novo golpe militar? Será que o movimento de depredar o patrimônio público seja um vandalismo daquele que foi depredado pelo Estado a vida inteira?

A questão é que o movimento todo tem sim sua grande parte positiva. O "gigante que acordou", expressão também usada na revolução de 1964, nos mostra nos dias de hoje que o povo está realmente cansado de tanta impunidade e do descaso com a saúde, educação, habitação e transporte, e que hoje clama por um governo diferente. Objetivos e metas que vão se estabelecendo e tomando formas durante todo este movimento, mas que ainda carece de um filtro e de maiores informações.

Ser tomado pelos meios de comunicação nos ajuda a esclarecer muita coisa e entender pelo que estamos lutando, mas deixar que isso nos contamine por completo é um grande perigo. Buscar os dois lados da moeda é praticamente imprescindível, porque lembre-se: por trás de grandes informações publicadas, existe alguém que também possui seus interesses ou suas digitais políticas, sejam elas as mais apartidárias possíveis. E usar nosso filtro, por menor que seja, é a melhor arma que podemos ter conosco neste momento!

Termino com um vídeo muito interessante que assisti ontem, do prof. da Escola Social da UFRJ - Mauro Iasi que talvez possa nos "confortar" sobre a falta de direcionalidade que ainda se apresenta nestes movimentos, e da participação dos partidos políticos nos protestos.
Terça-feira estarei de volta!


Abç... Patrícia

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Vem pra rua!

Desculpem-me pela falha na postagem desta semana, porém, minha adrenalina com todas estas manifestações está a mil! E conseguir ficar por uma hora escrevendo uma publicação seria uma violência física e psicológica comigo mesma.
E também porque, estes são os dias (espero que apenas os primeiros) de irmos para as ruas e fazermos nossa história! Chega de impunidade, chega de corrupção, chega de descaso! Objetivos que vão se alinhando e tomando forma.

O Catexizando volta na semana que vem com a publicação, claro, das manifestações que explodiram em todo Brasil nesta semana.
E você, aproveita e VEM PRA RUA!

São Paulo - 17/06/2013

Abç... Patrícia.

terça-feira, 11 de junho de 2013

(Des)cobrindo-se

Confesso que em algumas terças-feiras penso bastante no que vou escrever, e hoje foi mais um desses dias. Porém, não escolhi a terça-feira pra publicar por puro e extremo acaso.
Hoje refletindo no que escrever, pensei no quanto tenho me encontrado ultimamente e que poderia falar sobre isso.
É uma coisa meio estranha, tipo se encontrar num esconde-esconde debaixo do cobertor ou algo parecido, daqueles que só dificultam sua vida, mas é que tão gostoso quando você encontra alguma coisa (ou alguém).



E foi procurando no meio dos cobertores que fui (des)cobrindo.

Nos encontrarmos com nós mesmos exige muita disposição, e disposição interna. Não posso me encontrar por/ou em outro alguém, como vejo muitas pessoas fazendo. O dia dos namorados tá aí, e as mensagens que vejo pelas redes sociais ou falam de como as pessoas se completam no outro, ou como se sentem "satisfeitas" (sim, podem imaginar uma ironia nestas aspas) em estarem sozinhas sem ninguém para gastar seu dinheiro ou para roubar seus queridos finais de semana.
Como já havia escrito em "E o amor, onde é que está?" e "Real ou Ideal?", aquilo que procuro está mais em mim do que no outro. E toda essa procura acaba se tornando um caminho sem direção ou tentativas em vão.

Pô, se encontrar, apesar de todo o trabalhão que dá, é legal!
Saber das coisas que você gosta, que não gosta, de quem te agrada realmente ou não, que comida é mais saborosa, que roupa cai melhor, o que te dá preguiça ou entusiasmo, o que realmente é ser sincero, e poder dizer sim ou não quando realmente estiver a fim, não tem preço que pague ou pessoa que substitua.
E nessas (des)cobertas, fui vendo do que realmente gostava.

E enquanto eu pensava no que escrever, coloquei pra tocar uma música que achei a minha cara desde a primeira vez que ouvi. Não pelas atitudes exageradas, mas pela sinceridade da letra. Algo sem censura ou medo, só vontade de se atrever.
A música é da cantora Clarice Falcão, que anda sendo escutada por um canto aqui ou ali, ou que é conhecida pelos vídeos no canal do youtube "Porta dos Fundos". Gostei da melodia, das letras e da sinceridade de alguém que me parece falar dela e exclusivamente dela. Vá lá que a indústria musical também visa o lucro e a aprovação do capital, mas não achei que esse tipo de letra fora lançado para agradar "a geral".
É como algo pra expressar as coisas mais doidas que a gente pensa. E que pensa mesmo.
E a arte tá aí pra nos ajudar a expressar alguns devaneios sem precisar concretizá-los.

Aproveito pra deixar a indicação do CD da Clarice "Monomania", que é bem gostosinho de ouvir e dá pra sentir um clima de romance nas letras também. Tão espontâneo quanto me sinto nos últimos tempos.
Se um dia em minha vida fosse gravar um CD, esse talvez seria um com a minha cara.
Mas melhor que tudo isso, com ou sem indicação, é poder descobrir a nossa espontaneidade.

E calma, dia dos namorados tá aí, mas ninguém precisa se desesperar. Deixa aquela colega curtir com o companheiro, sem precisar roer os cotovelos, e aproveita pra passar o dia de outro jeito! Fique na fossa, saia dar risadas, ou simplesmente não faça nada e se desprenda disso, mas faça aquilo que você realmente deseja, sem achar que é o ser humano mais infeliz por estar sozinho. Não se deixe influenciar pelas datas criadas pelo capital e vá viver da melhor maneira que você encontrar! Porque a vida tá passando, e seus momentos (com você) também.
E estar sozinha, é pra mim, apenas uma questão de ponto de vista! Se é que você, depois de tudo isso que escrevi, me entende...

Pra terminar, a tal música da Clarice como tira gosto!


Abç... Patrícia.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Chora sanfona!

Para iniciar o mês de São João, vou começar com o nosso querido rei do baião.
Reflexões a parte, hoje venho com a indicação do filme que conta não só a história de Luiz Gonzaga, mas também um resgate da história entre o pai e seu filho Gonzaguinha.


O filme foi lançado no ano passado em homagem ao centenário do rei, porém só pudi assisti-lo recentemente.
Esperei um filme biográfico, mas além disso ganhei o prazer da trilha sonora (lógico) e também a história da busca de um pai, ausente, porém tão desejado. Gonzaguinha não procura um pai provedor, que fornece tudo aquilo que é necessário materialmente, mas um pai afetuoso e presente. 
Do outro lado, vemos um pai que veio lá do sertão, cresceu com outros princípios e visões, e tinha pra si que um bom pai era aquele que colocava a comida no prato e nunca deixava nada de bom faltar.
Duas pessoas que se perderam num caminho paralelo, mas que buscavam o mesmo destino.
Poder ouvir o outro e acolher seus anseios, angustias e expectativas é um passo para cruzar estes caminhos.

Além de toda a história, a maneira como se despediram dessa vida também é muito tocante. Após a reconciliação, shows e uma convivência retomada, a morte do pai não conseguiu separá-los, e o filho foi logo ao seu encontro. Pra mim, a parte mais emocionante dessa linda história.

Vale a pena por tudo isso e mais um pouco. 
O mês de São João, das festas, das fogueiras, do baião e do rei, começou. E nada mais justo do que iniciar o post do mês falando de nosso querido Luiz Gonzaga, que fez a sanfona chorar de tanta beleza e emoção! Um artista (que fez do baião uma arte) que tocava para o povo numa laje ou em céu aberto porque seu gosto era tocar pra'queles que eram simples e estavam ali por sua música. 
Simplicidade uma vez adquirida e muito bem mantida, sempre presente e cativante.
E uma vez rei, sempre rei!


Informações sobre o filme:
Título: Gonzaga - De Pai Pra Filho
Gênero: Drama
Duração: 130 minutos
Origem: Brasil
Direção: Breno Silveira
Roteiro: Breno Silveira
Ano: 2012

Sinopse:
No Filme Gonzaga - De Pai para Filho Nacional Online, Um pai e um filho, dois artistas, dois sucessos. Um do sertão nordestino, o outro carioca do Morro de São Carlos; um de direita, o outro de esquerda. Encontros, desencontros e uma trilha sonora que emocionou o Brasil. Esta é a história de Luiz Gonzaga (1912-1989) e Gonzaguinha (1945-1991), e de um amor que venceu o medo e o preconceito e resistiu à distância e ao esquecimento.

Leia também no blog: "Cultura e Memória"

Abç... Patrícia.