terça-feira, 15 de outubro de 2013

Ao mestre, com carinho


Venho nesta data de hoje, até mesmo como uma homenagem, escrever sobre os professores que passaram por minha vida. Mesmo sendo o título uma alusão ao filme da década de 1960, não é dele que falarei aqui. Usei-o mesmo como forma de carinho recíproco.

Vi muitas pessoas parabenizando e se lembrando dos seus primeiros professores, aqueles que lhes ensinaram coisas importantes na infância. Um gesto normal, já que é nessa fase que temos nosso primeiro contato com estes profissionais. Entretanto, hoje venho escrever sobre meus professores da graduação. Aliás, sobre uma professora em especial...

Quando entramos na faculdade, sentimos o grande choque de tratamento, diferente daquele que recebíamos na época do ensino médio. Mesmo você sendo muito novo, precoce até demais para estar aprendendo tanto coisa sobre uma profissão, eles te tratam como pessoas já responsáveis por suas escolhas e maduros o suficiente para encarar os desafios da Academia. Me lembro que os primeiros meses foram, para mim, de adaptação desse novo modo de relacionamento.

Vá lá, nos primeiros semestres alguns ainda nos repeliam, nos testavam e eram desaprovados por nós, o que tornou-se tudo uma questão de tempo. Precisei de alguns semestres para descobrir que estava aprendendo com os melhores nomes da área da Psicologia. Quando me dei conta, até achei que já era bem tarde.
Perdi professores muito bons, mas que me sinto privilegiada até hoje por tê-los conhecido e compartilhado de seus conhecimentos.

Mas foi no final da graduação, que uma professora já querida, me fez entender o que é ter prazer em lecionar.

Grande responsável pelo meu interesse na área social, ela me mostrou o quanto valia a pena olhar para o outro, entender suas dificuldades, e o mais importante de tudo: olhar para dentro de si.
Era final de graduação, todos as crises existenciais possíveis, estresses inimagináveis e uma vontade enorme de abandonar o barco. Todos sentimentos que me foram, então, tirados por ela.
Sempre muito exigente, experiente e pontual, conseguiu fazer-me olhar o quanto eu era ética, dedicada e interessada naquilo que fazia. Mostrou-me tantas vezes meus acertos, abriu-me tanto os olhos e motivou-me em discursos e apresentações finais da graduação.
Uma pessoa linda, batalhadora e com uma história de vida que ainda acredito que virará um filme!
Militante da ditadura, mulher obstinada e professora por vocação.

Sei, que muito daquilo que sou hoje, devo à ela. Devo, pois muito do que me foi despertado veio de toda sua insistência nos alunos que tanto apostava.
Nunca me esqueço de sua frase num dia caloroso de supervisão e depois de tantas observações suas em relatos nossos: "Pego no pé daqueles que sei que têm jeito e de quem gosto!". Me senti então, tão privilegiada.
Era daquelas que não sentiam necessidade de agradar e sem papas na língua. Guerreira.
Uma pessoa que me despertou tanta garra e tanta vontade de continuar, e querer ao menos, ser parecida com ela...

E é por ela que hoje, venho através desta postagem, deixar todo o meu carinho àqueles que exercem essa profissão por pura vocação e dedicação. Por amor em ensinar, apostar, disseminar, perpetuar e eternizar.
Àqueles que apostam todas as suas fichas não só buscando ensinar, mas buscando também tornar melhor um ser humano!
Hoje venho aqui deixar o meu abraço à ela, querida Pelissari, que por muito não me deixou desistir, que fez com que eu acreditasse em mim mesma e naquele que está ao meu lado. Através de você, descobri o que é acreditar e apostar em alguém.
Meu muitíssimo e imenso agradecimento.
E à todos esses mestres, meu grande carinho.


Abç... Patrícia.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Constituição de 88, o pesadelo da direita


Assistindo ao programa "Tv Folha" deste domingo, vi alguns minutos da série "Folha Poder", onde falou-se sobre a Constituição de 88.
Como já se sabe, a imprensa é administrada por grandes famílias tradicionais do Brasil, e a grande maioria de direita e elitista. Por tal motivo, o que mais vemos são matérias que atacam sistemas de governos que favorecem a população em vulnerabilidade social.

Eis então que se iniciou o ataque à Constituição de 88, promulgada pelo então Deputado e Presidente da Assembléia Constituinte Ulysses Guimarães, que pregava o "documento da liberdade, da fraternidade, da democracia e da justiça social no Brasil". Entretanto, o que deve ter ficado até hoje entalado na garganta da elite brasileira foi a questão da "justiça social".

O jornalismo da Folha, trouxe em matéria, que a Constituição mudou a forma como o governo gasta o orçamento anual. Curiosamente, a grande queixa da Folha foi que o governo aumentou os gastos com os benefícios assistenciais, sendo que em 1987 (um ano antes da promulgação) eram de 39%, e em 2012 os gastos chegaram a 73, 7% do orçamento da União.
Claro que, dentro destes benefícios assistenciais estão: o LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social - benefício concedido à deficientes incapazes de trabalhar e de idosos que não contribuíram e não recebem aposentadoria), o Bolsa Família (programa criado para a erradicação da extrema pobreza do país), INSS e Seguro Desemprego, chamando-a então de uma "Constituição voltada para o assistencialismo".

Decorrente tal crítica, o jornal apresentado por pessoas muito bem quistas, arrumadas e cheias de conhecimento, veio a brilhante entonação proclamada pelos grandes pensadores da direita:
"Esta queda nos investimentos onera o país com uma competitividade baixa no cenário internacional e afeta diretamente a qualidade da infra-estrutura nacional como portos, aeroportos e rodovias."
Pois sim, caros leitores, para a elite brasileira o desenvolvimento do país dá-se através da infra-estrutura, logo, aqueles que residem em municípios ou estados governados por tais partidos podem perceber sem precisar nenhum esforço. 
A palavra "social" como um sufixo do desenvolvimento, logo fica-se esquecida, pois ela remete-nos à um país que NECESSITA de investimentos para a pobreza pois possui uma grande porcentagem da população em tal situação.

Todavia, "Na última década, mais de 39 milhões de pessoas entraram na classe média, sendo que somente nos últimos 21 meses, 13 milhões de brasileiros chegaram a esse estrato social. Com esta ascensão, o Brasil tem mais da metade da população inserida na Classe Média." (fonte: http://www.sae.gov.br/novaclassemedia/?p=113). O que me espanta, pois tal crescimento contribui para a movimentação do capital, e consequentemente para o enriquecimento da burguesia elitista que critica o "desperdício" com benefícios assistenciais.

Ao final da reportagem, também citam que os cidadãos não conhecem seus direitos, discurso esse muito envolvente da direita para conquistar a aversão da população sobre tais benefícios. Mas curiosamente, os únicos procurados para responderem tal pergunta na reportagem, são cidadãos aparentemente de classe média/classe média alta. Me pergunto insistentemente se essa preocupação dá-se com o cidadão que mora nas ruas, mas tem (ou ao menos deveria ter), por DIREITO documentado, um lugar onde se morar.

A grande questão é, para o governo de direita, e todo o jornalismo que o acompanha, gastar dinheiro com benefícios assistenciais é mostrar não só aqui, mas também internacionalmente, que somos um país que sofre com o problema social e que necessita empreender muito mais nisso do que em infra-estrutura. A infra-estrutura, por sua vez, promove a ilusão de que moramos num país extremamente desenvolvido (coloco nisso um tom de ironia) e que possui grande disponibilidade para a movimentação do capital (como portos, rodovias e tudo mais), pois a necessidade desta estrutura dá-se sim pelo aumento monstruoso do capitalismo.

É neste delicado momento que não podemos perder a noção de que, sim, o assistencialismo muitas vezes acontece, entretanto, dentro de tais benefícios oferecidos pelo Estado, existem condicionalidades que determinam se o cidadão tem direito ou não de recebê-lo. Também não podemos deixar de perceber de quem tal mensagem está chegando até nós. O país saiu de uma grande condição de pobreza e trouxe 39 milhões de brasileiros à classe média. Esta classe, a qual é e foi, curiosamente, responsável por grandes manifestações políticas no nosso país. Manifestações que se deram contra o governo direitista que roubavam nosso cidadãos sem nenhum pudor, pois tais não eram providos de conhecimento. 
Sendo assim, fica aqui meu grande repúdio a tal matéria e tal equipe jornalistica, como também minha grande certeza de que a mídia continua tentando, através de seu grande poder de informação, manipular a população contra o desenvolvimento social, camuflando a realidade de nosso país e se esquecendo daqueles que não possuem nem o básico para sobreviver, desejando sempre o poder, a alienação e o sub-desenvolvimento deste país.

Porque ostentar é sempre mais fácil do que partilhar.


Abç... Patrícia.