segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Um cheiro e um vento

Existem dias que no final deles você se sente cansada, doída, fatigada. No momento em que enfim você consegue chegar num local e relaxar, você se pergunta: "o que hoje eu poderia fazer para me sentir melhor?".

Fiz isso no dia de hoje, quando cheguei em casa e coloquei a cabeça no travesseiro, pensando em todos os diálogos e as tarefas do dia, fechei os olhos por apenas 2 segundos e consegui imaginar um tanto bem grande de coisas que gostaria de fazer nesse momento.

Talvez a primeira delas fosse deitar na margem ou qualquer lugar de uma cachoeira onde eu sentisse a correnteza da água levando os meus cabelos. Sentiria o cheiro de uma margarida e meus pés na grama. Comeria um bolinho de chuva cheio de açúcar e canela. Me sentaria num balanço bem alto, daqueles que seus pés ficam nas pontas dos dedos, sentindo a areia que existe no chão. Caminharia numa rua com os olhos fechados, sorrindo, e apenas sentido a brisa batendo nos fios castanhos. Dançaria por minutos ao som de boas músicas francesas. Subiria na Torre Eiffel pra ver as luzes da cidade da luz. Levaria o duende de Amelie Poulain na garupa da minha bicicleta e o deixaria na praia. Daria um beijo bem molhado em alguém que quero muito bem. Faria um jardim de tulipas. E me sentaria numa pedra por um bom tempo, pra tentar esquecer de qualquer coisa que aconteceu no dia, como um recipiente se esvaziando.


Fecharia os ouvidos pro mundo e pras pessoas, e abriria apenas ao meu coração. Ouviria do que e de quem ele gosta e por qual vento quer ser levado.

Gostaria também que você pudesse sentir cada uma das sensações dessas coisas, pra gente saber que só de fechar os olhos muita coisa pode acontecer.
Obrigada Amelie, pela sensação dos meus cabelos voando. Seria ela, seria eu, seria inteira.

Um toque e um cheiro valem mais que milhões de sugestões, mesmo que sejam eles do vento.

Então, um cheiro e um vento pra você, bem demorado!
Patrícia.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A elegia que me traz de volta

A poesia sempre me trazendo de volta...

Hoje, venho com a indicação de um livro que ganhei de um grande amigo no natal, período em que a maioria das pessoas se reúnem e brincam do tradicional "amigo secreto". Com o pessoal do meu trabalho, fizemos uma listinha de sugestões daquilo que achávamos legal ganhar. Fiquei alguns dias pensando, porque as vezes não sei funcionar sob pressão. Foi quando me lembrei o quanto gosto de poesias, e nada melhor do que ganhá-las numa época tão simbólica. Então, lá estava o pedido da Patrícia: "um livro de poesia, ou sobre música, mas qualquer coisa que não seja um best-seller" (tenho uma grande inimizade com essa categoria, (in)felizmente).

Mas presente é aquela coisa, você sempre fica morrendo de medo. Principalmente quando vem de um "amigo" secreto. Vai que aquele que te tirou, como diria Jorge Ben, "não é lá muito seu amigo"...
Porém fui sortuda, fui tirada por aquele amigo-irmão que te acompanha até no trabalho.

Quando coloquei os dedos em cima do presente e consegui sentir que era um livro, pensei "ufa", mas me lembrei que ainda vinha a parte principal: o desembrulho.
Mas ele não me decepcionou! Quando terminei, o nome que logo apareceu era "Vinicius de Moraes". Meus olhos brilharam com o nome do poetinha, e senti que meu natal ficara mais ousado.

"História Natural de Pablo Neruda - A elegia que vem de longe". Esse era o nome que abrilhantava meu amigo-clichê-secreto. Um livro com poesias dedicadas à Neruda, numa mistura de amizade, amor, e dor pela perda de um grande amigo. Desconhecia a proximidade tão grande que existia entre os dois, e depois de algumas páginas, me senti sentada ao lado deles discutindo sobre o regime do Chile, a morte de Allende e o sofrimento de Neruda. Me senti também rival das mulheres que rondavam as poesias. Matildes e Marias que roubavam a cena e causavam uma ponta de ciúmes. Xilogravuras que me levavam pra junto do mar e do amor. Consegui até mesmo ver o copo de uísque em cima da mesa, um cigarro aceso numa mão, e na outra os dedos sob o óculos, fitando um pedaço de papel com as palavras escritas à Neruda. Vi Vinícius ali, na minha frente, no meu início de ano novo, ao lado também do cartão recebido que me dizia "é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe", como bons votos para 2014.
Vinícius estava ao meu lado escrevendo para seu grande amigo. Estava escrevendo comigo. Estava escrevendo pra mim.

Vinícius estava me dizendo o quanto a vida cabe e ao mesmo tempo transborda em pequenas estrofes. Ambos me disseram que sentimentos transpassam matéria, tempo e proximidade. Estavam me chamando e dizendo que sempre vale a pena voltar pela poesia. Uma elegia que me trouxe de volta, e algumas palavras que se traduzem em vida.

Voltei.


"Hoje mais do que nunca o mundo avança
Para uma Aurora ainda aprisionada.
Tentemos resgatá-la com poesia
Cada poema valendo uma granada..."



Informações sobre o livro: 
Título: História Natural de Pablo Neruda - A elegia que vem de longe
Autor: Vinícius de Moraes
Xilogravuras de: Calasans Neto
Apresentação de: Ferreira Gullar
Ano: 2006
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 80

Além de tudo isso, a segunda capa do livro se transforma num pôster! É pra se deliciar mais ainda. Então, fica a dica!

Abç... Patrícia.