segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A elegia que me traz de volta

A poesia sempre me trazendo de volta...

Hoje, venho com a indicação de um livro que ganhei de um grande amigo no natal, período em que a maioria das pessoas se reúnem e brincam do tradicional "amigo secreto". Com o pessoal do meu trabalho, fizemos uma listinha de sugestões daquilo que achávamos legal ganhar. Fiquei alguns dias pensando, porque as vezes não sei funcionar sob pressão. Foi quando me lembrei o quanto gosto de poesias, e nada melhor do que ganhá-las numa época tão simbólica. Então, lá estava o pedido da Patrícia: "um livro de poesia, ou sobre música, mas qualquer coisa que não seja um best-seller" (tenho uma grande inimizade com essa categoria, (in)felizmente).

Mas presente é aquela coisa, você sempre fica morrendo de medo. Principalmente quando vem de um "amigo" secreto. Vai que aquele que te tirou, como diria Jorge Ben, "não é lá muito seu amigo"...
Porém fui sortuda, fui tirada por aquele amigo-irmão que te acompanha até no trabalho.

Quando coloquei os dedos em cima do presente e consegui sentir que era um livro, pensei "ufa", mas me lembrei que ainda vinha a parte principal: o desembrulho.
Mas ele não me decepcionou! Quando terminei, o nome que logo apareceu era "Vinicius de Moraes". Meus olhos brilharam com o nome do poetinha, e senti que meu natal ficara mais ousado.

"História Natural de Pablo Neruda - A elegia que vem de longe". Esse era o nome que abrilhantava meu amigo-clichê-secreto. Um livro com poesias dedicadas à Neruda, numa mistura de amizade, amor, e dor pela perda de um grande amigo. Desconhecia a proximidade tão grande que existia entre os dois, e depois de algumas páginas, me senti sentada ao lado deles discutindo sobre o regime do Chile, a morte de Allende e o sofrimento de Neruda. Me senti também rival das mulheres que rondavam as poesias. Matildes e Marias que roubavam a cena e causavam uma ponta de ciúmes. Xilogravuras que me levavam pra junto do mar e do amor. Consegui até mesmo ver o copo de uísque em cima da mesa, um cigarro aceso numa mão, e na outra os dedos sob o óculos, fitando um pedaço de papel com as palavras escritas à Neruda. Vi Vinícius ali, na minha frente, no meu início de ano novo, ao lado também do cartão recebido que me dizia "é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe", como bons votos para 2014.
Vinícius estava ao meu lado escrevendo para seu grande amigo. Estava escrevendo comigo. Estava escrevendo pra mim.

Vinícius estava me dizendo o quanto a vida cabe e ao mesmo tempo transborda em pequenas estrofes. Ambos me disseram que sentimentos transpassam matéria, tempo e proximidade. Estavam me chamando e dizendo que sempre vale a pena voltar pela poesia. Uma elegia que me trouxe de volta, e algumas palavras que se traduzem em vida.

Voltei.


"Hoje mais do que nunca o mundo avança
Para uma Aurora ainda aprisionada.
Tentemos resgatá-la com poesia
Cada poema valendo uma granada..."



Informações sobre o livro: 
Título: História Natural de Pablo Neruda - A elegia que vem de longe
Autor: Vinícius de Moraes
Xilogravuras de: Calasans Neto
Apresentação de: Ferreira Gullar
Ano: 2006
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 80

Além de tudo isso, a segunda capa do livro se transforma num pôster! É pra se deliciar mais ainda. Então, fica a dica!

Abç... Patrícia.

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