quinta-feira, 14 de abril de 2011

Até onde vai nossa tolerância?

Após muito tempo sem escrever, não poderia deixar de falar sobre o atual massacre que aconteceu em Realengo na última quinta-feira. A história, todos nós já sabemos, embora a cada dia que passe, novas informações sejam divulgadas.
Todo este acontecimento gerou uma grande revolta no povo brasileiro, onde a indignação se estabelece por se tratar da morte de crianças que mal tiveram direito à vida. Ainda não sou mãe, mas imagino o sofrimento que todas estas estão passando neste momento, o qual sabemos que nem é necessário julgar ou quantificar.
Mas o que me traz aqui, e de volta, é o que coloco no título: "Até onde vai a nossa tolerância?".
O assassino Wellington já não está mais entre nós, não está mais aqui para dizer qual foi sua motivação para tal ato, e mesmo assim todos estão ditando seus motivos, procurando justificativas para amenizarem sua dor, diagnosticando e batendo o martelo no seu "perfil psicológico".
Sinto, cada vez mais, que o ser humano precisa que alguém seja mais maldoso ou mais maligno do que ele, que seja mais culpado do que cada um de nós somos. Porque todos nós somos culpados de alguma coisa: ou pelo aquecimento global, ou pelo abuso infantil, ou pelo sigilo de informações de pessoas que sofrem por espancamento, ou por simplesmente fecharmos os olhos para a fome, para a desigualdade e para todas as outras injustiças que são cometidas por nós, seres humanos.
Esquecemos também da grande injustiça que fazemos com nossas crianças: daquelas que são depositárias de todos os sofrimentos e neuroses de seus pais, daquelas crianças que pedem socorro em silêncio mas não queremos ter o trabalho de ouvi-las. Não podemos nunca nos esquecer que um adulto já foi criança, e é na infância que precisamos depositar todo nosso carinho, atenção, cuidado e educação. Não podemos nos esquecer que uma criança sofre, e sofre até muito mais do que nós, porque ainda não possui a facilidade de expressão que desenvolvemos com o tempo. Muitas delas sofrem sozinhas. Muitas delas sofrem por transtornos psíquicos, os quais encaixamos nos diagnósticos da atualidade, não procurando por ajuda. Não vamos a fundo, não vamos ajudá-las, não olhamos para elas e para nós (que podemos muitas vezes sermos responsáveis por esse sofrimento).
Mas não temos tolerância para isto, não estamos preparados para lidar com a culpa da nossa responsabilidade, temos a dificuldade de enxergar nossos erros, porque nosso ego não está preparado pra isso. Então agora vamos todos julgar o porte de armas e nos esquecer do referendo para o desarmamento que ocorreu em 2005 e a maioria (da qual posso me isentar) votou para que isso não acontecesse. Vamos nos esquecer da criança que está em nossa casa, precisando de ajuda, para chorar pela morte da criança da rua de trás, e lembrar dos nossos quando algo pior tiver acontecido.
E vamos mais uma vez passar por cima do luto de todas essas crianças, misturando a angústia com a alegria, fazendo uma festa à elas quando elas retornarem à escola, e assim ajudando na confusão de sentimentos e burlando o direito que todas elas tem de superar e entender o que é a morte, roubando-lhes então a tolerância para isto. E assim vamos construindo adultos iguais à nós, intolerantes.
E então lhe pergunto: Até onde vai a sua tolerância?
Abç... Patrícia.

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