terça-feira, 7 de maio de 2013

Transformando e contando histórias

Pensando na publicação de hoje e no que poderia trazer, me lembrei de outro filme muito bom que assisti, baseado numa história real, e me perguntei porque esta história foi lembrada por mim neste dia.
Desde que comecei a trabalhar na área da assistência social, fui privilegiada por compartilhar conhecimento com uma equipe muito empenhada e interessada, que busca a todo momento questionar as condições humanas e principalmente as questões sociais. Sendo assim, vários momentos são divididos em equipe e muitas reflexões se perpetuam durante nosso trabalho.
Quando me lembrei do filme trazido hoje, me lembrei também o quanto ele me fez refletir na realidade em que atuo e que está posta em nossa sociedade.



O filme é brasileiro e chama-se "O Contador de Histórias", que conta a história de um menino nascido em uma família grande e muito pobre. Por estes fatores, seus pais não tinham dinheiro para colocar a comida na mesa e muito menos lhes oferecerem uma educação digna.
Eis então, que naquela época, o governo inaugura uma instituição chamada "FEBEM" (Fundação Estadual do Bem Estar do Menor), que prometia às famílias um local onde se oferecia estudo, moradia, alimentação e uma futura profissão, atraindo assim muitas famílias pobres economicamente, mas ricas em esperança de um futuro melhor para suas crianças.
E lá se foi nosso menino protagonista, com a esperança de sair da instituição um "Doutor".

Assim como todo sabemos, este não foi o destino da FEBEM (hoje chamada de Fundação CASA que acolhe menores em medida sócio-educativa) e acredito que muito menos sua função desempenhada naquela época. Com um propósito fortemente higienista, o governo tirou das grandes favelas muitas crianças que tornavam maior o índice populacional, para lhes oferecerem uma condição de vida menos digna daquela que viviam ao lado de suas famílias.
Crianças que por serem pobres carregavam consigo o grande estigma de não merecerem um tratamento e um futuro melhores, sendo postas longe do convívio familiar, do afeto ou do carinho que uma mãe poderia lhes oferecer sem precisar de dinheiro.

E assim vamos conhecendo a história de Roberto, uma criança encantadora que cede ao descaso e à pressão governamental e cai na marginalidade.
Não irei discorrer toda a história do filme, até porque irei roubar o gosto da descoberta e do prazer àqueles que ainda não conhecem. Mas a trago pois Roberto foi mais uma vítima da grande falha do Estado que faz de nossas crianças, seres totalmente à margem da sociedade que precisam roubar e extrapolar limites para talvez serem enxergadas, e que carregam consigo todo o senso comum, responsável por julgá-los por seus atos, mas que não conhece sua história ou muito menos participa de uma luta por uma realidade diferente.

Roberto pode mudar e ter uma vida diferente pois teve uma oportunidade, e cresce para contar sua história ao redor do mundo. Um grande fato que nos mostra que muitas vezes estas crianças e adolescentes são vítimas da falta de oportunidades que os "perseguem" no decorrer de sua vida. Julgá-los e estigmatizá-los definitivamente está num caminho mais fácil e indolor, pois penso que na sociedade narcísica em que vivemos, seja doloroso demais ver que iguais passam por condições tão sub-humanas de sobrevivência e de sentimentos e emoções.
Porém, este caminho mais difícil e doloroso talvez seja o que nos permite olhar e enxergar o outro como pessoa de direitos e merecedora de oportunidades. E creio que este seja o caminho que nos preencha de voz e determinação para questionar um governo que de tão omisso e manipulador, consegue transformar aquele que foi desfavorecido em toda sua vida, no desfavorecedor que aterroriza e ameaça nossa sociedade.

Agora deixo com vocês o prazer em descobrir esta história e de formular sua própria opinião.


Informações sobre o filme:
Título original: O Contador de Histórias
Duração: 100 minutos
Gênero: Drama
Direção: Luiz Villaça
Ano: 2009

Saiba mais: Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990

Abç... Patrícia.

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