terça-feira, 28 de maio de 2013

Envelhecer pra quê?

Diante de tantas situações vivenciadas com idosos, me questiono cada dia mais como nossa sociedade está olhando para a velhice. Uma fase de nossa vida que desperta reações tão ambíguas.

Hoje a velhice (pois como matéria também envelhecemos), é chamada de "melhor idade". Começo por aí minha crítica. Usamos essa analogia para pensar que envelhecer não é ruim, o que pode realmente não ser. Mas sinto nessa expressão uma negação de um período onde a saúde se debilita, o corpo não possui mais a energia de antes e os cuidados muitas vezes dobram. Esquecemos que a velhice é uma nova fase que se inicia e que carrega consigo mudanças inevitáveis. Estamos em crise com nossos idosos. A expectativa de vida aumenta a cada geração, entretanto, não somos preparados para saber como lidar com ela. Não sabemos como lidar com familiares que se adoentam e que exigem mais cuidados. Nossa sociedade narcísica não está preparada para isso.
O capital nos ajuda a acreditar que ser saudável é ter um rosto sem rugas, uma roupa elegante e um bom porte físico mesmo com nossos 60 ou 70 anos. E assim, presenciamos cada vez mais pessoas negando sua chegada à velhice.

Reflexões sociológicas a parte, o que me preocupa é como estes idosos estão sendo tratados e cuidados atualmente. Ao mesmo tempo que uma conscientização é fomentada, muitos deles estão sofrendo o desprezo e o descuido, causados pela dificuldade de enfrentamento de pessoas próximas ou responsáveis por seu bem estar. A velhice é posta de lado. Os desejos materiais, psicológicos e sexuais são postos em questão, e o idoso se reduz a um simples instrumento guiado pelo outro. Sua lucidez ou teimosia são vistas como possíveis ameaças de quebra na ordem estabelecida.

A criação de asilos também desperta uma grande discussão: um lugar necessário para aqueles que são deixados de lado, sem ter para onde ir; e um lugar depositário de insatisfações familiares.
Será que não suportamos ver a debilidade do outro, ou não conseguimos lidar com nossa própria dor quando percebemos que não somos os deuses impostos pelo capital?

A ausência de políticas públicas efetivas também colabora para que todo este comportamento frente à velhice seja repetido. Possuímos um estatuto que garante seus direitos e deveres, mas sofremos a angústia de não encontrar um serviço criado para que esta lei seja aplicada.
Nas capitais e regiões metropolitanas os órgãos de defesa do idoso começam a ter um outro destino e se mostram à população. Porém, o descuido e maus tratos não são perpetrados apenas em cidades grandes. Ficamos atados, sem poder oferecer àqueles que se encontram extremamente vulneráveis, uma proteção que ofereça aquilo que prega.
Estamos fadados a reproduzir aquilo que abominamos e desejamos extinguir.

O olhar de que o idoso (em plenas condições físicas e/ou mentais) é capaz de responder e agir por si próprio também deve ser enfatizado. A infantilização e a responsabilização exacerbada à familiares também não significa proteção. Deixá-los se sentirem donos de suas ações e potencialmente capazes das mesmas, dá à eles o direito de usufruir as mudanças que esta fase proporciona e a continuidade da vida, que ocorre mesmo contra nossa vontade ou sem percebermos.
São pessoas que ainda desejam, que ainda sofrem, que ainda se alegram, que ainda se emocionam, que ainda erram e que ainda crescem. Que necessitam sim de cuidados especiais, mas que buscam a mesma coisa que a maioria de nós: poder viver, mesmo que a vida seja cheia ou não de complicações.

Pensar em como lidamos com a velhice é um ponto de partida crucial. Como tratamos e como aceitamos esta fase nos ajudará a identificar como se dão nossas atitudes frente a esta inevitável fase da vida.
Muitas vezes entrar em contato com essa dor, principalmente para quem vivencia tais situações, pode ser muito angustiante, amargo e desesperançoso, mas tenho certeza que esta reflexão traz consigo as mudanças tão importantes para aqueles que cada vez mais são mencionados, contudo cada vez mais esquecidos.

Como olharemos apenas para nossas crianças esquecendo-nos de nossos idosos, não ensinando-as a cuidar daqueles que representam seu futuro?
Lembremos que todos somos construções de conhecimento, de saberes e de experiência, e todos temos o direito de (no mínimo) desejar viver, principalmente, com dignidade.

"Envelhecer pra quê?
- Pra mostrar o quanto já vivi."

Abç... Patrícia.



PS: Para quem deseja obter mais informações sobre os direitos e deveres do idoso, acesse o Estatuto do Idoso criado em 2003. E também o Disque Direitos Humanos do Governo Federal (o Disque 100) que é um aliado no combate às violações de direitos perpetradas contra idosos.

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