sábado, 10 de setembro de 2011

Conversa com o amor



Estava o amor ali, sentado, esperando a hora passar e a tristeza chegar ao fim. Que triste são os amores não correspondidos, abandonados e solitários.
As horas se passavam como todos ali que também andavam, e viram o amor sentado à beira da luz do cair da tarde, onde nada se tornava diferente. O amor tomava a forma de uma mulher bonita, de cabelos castanhos, olhos cor de mel, num corpo robusto com um rosto rosado. E lá o amor ficava, sem saber pra onde ir ou qual direção tomar nessa vida.
Todos os sentimentos passaram à sua frente, e deixaram para ele apenas lembranças e palavras, mas que nada puderam mudar. 
Primeiro passou a solidão que sentou e quis ficar. Tomou um grande tempo e fez as coisas se tornarem cada vez mais perdidas e tristes. A solidão não quis embora, mesmo quando foi solicitado. Sempre foi teimosa, cheia de tempo disponível para ficar na vida das pessoas e sempre inesperada. E ali ela sentou, ao lado da moça bonita e ficou em silêncio, mas seu silêncio bastava, como se proferisse tantas palavras angustiantes que traziam a dor. A solidão nunca precisou falar, sempre foi muda, mas sempre significou um turbilhão de palavras. E assim, a moça chorou e lembrou.
Logo após veio a incerteza. Não sabia se sentava ou se ia embora, se falava alguma coisa ou se respeitava o silêncio da moça. Mas resolveu sentar por alguns instantes ao lado dela, e a relembrou de tantos fatos, os quais ela nunca obterá respostas. E ali ficou por alguns minutos conversando com o amor, sempre mostrando as possibilidades de caminhos, como tudo era incerto e como o amor deveria ser desconfiado. Mas chegou a hora de partir, pois não tinha certeza se estava sendo escutada, e se foi. O silêncio voltou e a moça pensou naquilo que não deveria pensar.
A traição sabia onde o amor estava, e também quis se sentar alguns minutos. O amor foi hesitante no começo mas a traição soube como manipulá-lo, soube falar as palavras mais bonitas, as promessas mais encantadoras e jurou dar-lhe o mundo todo. E o amor sempre acreditou, sempre quis tudo isto. Mas a traição logo se foi, deixando a moça ali, esperando todas as coisas prometidas e todas as sensações oferecidas. Alguma coisa que passou atraiu sua atenção, e ela logo foi atrás como sempre fez, desfazendo os sonhos que gerou no amor. E a moça logo se tomou de tristeza pois foi mais uma vez traída.
Em seguida a distância passou, mas quis falar de longe. Lembrou o quanto ficar longe do outro dificulta as relações. O amor se levantou, quis chegar mais perto, mas ela logo recuou pois não havia a possibilidade dessa aproximação. Embora o amor soubesse que para ser feliz, deveria estar junto daquilo que mais se afastava dele, mas não conseguiu. E depois de algumas palavras faladas ao longe, a distância foi embora, pois não queria estar próxima à ele. E a moça sentiu um vazio no peito, como quando perdemos algo e não sabemos onde deixamos.
A felicidade veio logo atrás. Chegou cheia de vida, na forma de um sorriso e quis sentar bem perto. Mostrou todas as coisas bonitas que tinham no jardim que os cercava, e como a vida era cheia de caminhos que podiam trazer a felicidade. O amor logo se encheu de alegria e viu que havia chances para ele, que a vida poderia ser além daquilo que vivia e que toda sua história poderia ser diferente e com um final feliz. Mas a moça lembrou de todas as outras passagens, e pôs-se a perguntar quem estava certo.
A esperança chegou radiante, mostrou-lhe que tudo pode mudar, que as coisas e as pessoas possuem seus ciclos, e nada é determinado nessa vida ao ponto de desistirmos. Contou fatos bonitos e importantes de amores que mudaram e que puderam ser felizes. A moça voltou a acreditar em seu coração, e o amor disse à ela que deveriam seguir em frente, mesmo com tantos tropeços.
A paixão passou, mostrou ao amor que tudo era crédito seu. Lembrou das coisas bonitas por ela vividas, dos sentimentos entorpecentes que proporcionou, das horas perdidas numa tarde de sol, das alegrias com um simples olhar, dos suspiros constantes ao longo dos dias e de como tudo se transformou em colorido. A paixão lembrou ao amor as coisas bonitas as quais ele havia se esquecido, mostrou o outro lado de alguém que descobrimos no início, as qualidades que ainda possuímos mas que esquecemos ao longo do tempo. E o amor se encheu de lembranças boas e de sentimentos maravilhosos, e disse à moça que sua lembrança ainda conseguia sentir aquelas sensações, os cheiros, os toques. E a moça teve saudade. E a saudade demorou mas logo veio, chegou cheia de mistérios e disse à ela que só iria embora com o tempo, que era seu grande aliado. Quando a saudade se foi, as coisas voltaram a ser boas, mas a moça sabe que logo ela voltará e fará tudo ser lembrado e sentido novamente.
E o amor ficou ali, lembrando de todas as passagens por aquele banco e tentando entender o que sentiu e o que faria depois disso tudo. 
Mas ainda faltava alguém, alguém que sempre resolveu tantas coisas, mas que estava dando a sensação que nunca ia passar. Era o tempo. Porém, ele já tinha passado e ainda estava passando por lá. Passou por todos os momentos, viu todas as visitas e guardou todas as palavras. Guardou tudo numa caixa que deixou ao lado da moça, o que se tornaria grandes lembranças. Passou ali tantas vezes que o amor nem percebeu, mas mesmo assim reclamou, dizendo que estava sentindo a falta da sua visita e que precisava de suas palavras para ponderar tudo aquilo que tinha escutado.
O tempo tinha lhe escrito, num papel que na caixa se encontrava, que não precisava ter sentado ao seu lado, mas que só precisava ter passado por ali e ter proporcionado todas aquelas sensações; que não precisava ser visível, mas sim perceptível. Foi assim que o amor sentiu que ele realmente tinha passado por ali, e tinha colocado algumas coisas em seus lugares.
É estranho como o amor sempre tem a sensação de não tê-lo encontrado, mas no final sempre sabe que foi visitado. E disse à moça que apesar de tudo o que tinham lhe falado, de todas as sensações vividas novamente, o único que deveria ali ser respeitado era o tempo. A moça fechou os olhos, pediu para que ele passasse depressa, que os pensamentos entrassem no lugar e que tudo mudasse a partir dali, mas foi quando o amor disse que nisso, só o tempo manda.
Eles entenderam que tudo o que ouviram faziam parte deles e que nada ali era desconhecido. Alguns eram bem-vindos, outros não, mas nenhum era um estranho. Entenderam que tudo era uma mistura, sem sabermos o porque das coisas.
Foi assim que a moça descobriu que não adiantava sentar e esperar as coisas passarem, mas sim lembrar das coisas ditas e feitas e saber o que fazer com elas, aliadas ao tempo. 
Ela se levantou, carregou o amor junto e todas suas lembranças, os olhos ainda tinham lágrimas, mas a sensação já era diferente e foi embora com todos os sentimentos possíveis e imagináveis, com a cabeça cheia de pensamentos, mas sabia que depois de tantas visitas, só precisava ter esperado uma delas passar...
...o tempo!
(Conto produzido em 29/08/11 para o 9º Unicult da Unimep)

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