(Texto publicado originalmente no extinto blog "Zine Pasárgada)
Eu imagino que a maioria já esteja um pouco enfadada a ouvir ou ler coisas a respeito dos 10 anos do atentado às torres gêmeas, ocorrido em 11/09/2001. E com certeza ainda iremos ver muito sobre esse dia, devido ao grande patriotismo e a grande dor do povo norte-americano.
Porém, assistindo todas as homenagens que foram feitas não só no país, mas ao redor do mundo e também de ver a dor da lembrança para aqueles que ficaram, me fiz a seguinte pergunta: Isso se consiste em relembrar o fato ou a dor?Algumas coisas acabam sendo um pouco contraditórias na nossa atualidade. A morte que é um destino a qual ninguém pode fugir, acaba sendo tratada de formas diferentes. Hoje podemos todos perceber, o quanto as pessoas possuem o medo da velhice, a não-aceitação dessa fase natural da vida e o "medo" das mudanças que ela carrega, e estão fugindo cada vez mais fisica e psiquicamente, se escondendo atrás de fórmulas estéticas fantásticas, que transformam uma senhora de 60 anos em uma mulher de 40. E isso é cada vez mais normal no nosso mundo, onde as pessoas enxergam este fato como um culto à beleza, ao estar e se sentir bem. Porém, isso acarreta num sentimento jovem que faz a pessoa continuar negando seus 60 anos de idade. Essa busca desenfreada pela juventude e a negação do envelhecimento, se camuflou como busca apenas da beleza. E isso faz com que nos convençamos mesmo que só estamos indo atrás disso. Mas envelhecer significa estar se aproximando da morte, e o homem desaprendeu a lidar com ela. A medicina (salvo muitos casos) também está ai para nos mostrar isso.
Após esse fato cada vez mais crescente de distanciamento que estamos estabelecendo com a morte, enganando nós mesmos que sempre teremos nossos 20 e poucos anos, pensei após tantos anos vendo a dor dos familiares e amigos e a grande homenagem às vitimas do 11 de setembro, o quanto o ser humano está entrando em contato com estas mortes. É aí que entra a posição contraditória que mencionei. Ele foge mas busca a dor que ela traz, ao mesmo tempo, e sem perceber.
Há quantos anos vemos todas as vítimas sendo lembradas e choradas?
Acredito que o fato deva sim ser lembrado por muito tempo, assim como temos a história e a memória de grandes acontecimentos mundiais. Mas será que é o fato que está sendo lembrado até agora ou a dor dessas pessoas? Uma dor que parece nunca ter fim. Um luto que NÃO quer ser elaborado, e que é relembrado todos os anos.
Algumas questões realmente me intrigam. A dificuldade de aceitação e de relação com a morte está aí: fugimos dela porque não a queremos, não a suportamos, mas quando ela chega, não nos conformamos e acabamos entrando sempre em contato com a dor que ela proporciona. E nisso se encontra a grande dificuldade do ser humano em aceitar e lidar com a morte.
A cada oportunidade que tenho de pensar sobre como o ser humano se relaciona com esta questão, fico mais intrigada. Por que precisa essa "não-aceitação" significar uma dor incessante?
Não estou questionando o fato do atentado, pois isto entraria em questões políticas que fogem ao meu alcance, mas penso na dor que é constantemente lembrada, sentida e cutucada, não permitindo então que sofrimento e angustia possam se libertar para que cada um possa seguir sua vida em frente, diminuindo talvez esse peso que carrega há tantos anos.
Ouvi na TV esses dias a triste comparação da cascata que construíram no lugar das torres com as lágrimas incessantes dos que ficaram. Que triste vida será essa? O quanto dói carregar este sofrimento?
E termino também, com outro questionamento: Será que mostrar ao mundo um fato tão triste enfatizando o sofrimento causado, para que ele não aconteça novamente, irá realmente fazer o homem deixar de lado sua ambição e lembrar da existência do outro?
E o luto sempre fica, sem elaboração alguma, e sem acharmos que precisamos disso.
Abç... Patrícia
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